ANÁLISE: Marginalidade e condições de gênero dos jovens em El Salvador

*Por Amaral Palevi Gómez Arévalo

A marginalidade, entendida como um processo de exclusão social, é naturalizada em muitos grupos de jovens nos assentamentos urbanos precários. Entre os lugares marginais que ocupam os jovens para se reunirem encontram-se prostíbulos, bilhares, cantinas, cervejarias, locais de venda de drogas, lugares de consumo clandestino de drogas, depósitos de lixo, entre outros. Esses espaços marginais encontram-se separados, ou pelo menos existe uma divisão simbólica entre eles, de outros espaços tradicionais de encontro entre os jovens considerados positivos: escola, campo de futebol, praças. Mas, em alguns casos os espaços de encontro marginais ou positivos convivem simultaneamente, criando condições de vulnerabilidade para o consumo de droga, envolvimento com a criminalidade, a deserção escolar e a inserção em atos de violência organizada armada. De acordo com estes contextos marginais, os jovens se conformam em uma cultura juvenil da marginalidade que pode corresponder a uma organização, a utilização de determinados símbolos, imagens, incluindo ídolos (ONU, 2011: 10), e que identificam aos jovens como parte de um processo atrofiado de inclusão social por parte do Estado em seu conjunto de políticas públicas.

A Educação como política pública principal de inclusão social das crianças, adolescentes e jovens tem perdido o sentido de êxito e o progresso ao nível pessoal e coletivo. Os moradores dos assentamentos urbanos precários da Área Metropolitana de San Salvador (AMSS) “[…] se quejan de las pocas escuelas que hay en algunas zonas, del mal estado de las mismas, de la baja calidad de la enseñanza y de la inseguridad que viven los alumnos, propiciada –en gran medida– por el acoso a los estudiantes por parte de las pandillas que circundan la zona” (Savenije e Beltran, 2012: 17), desconfiam da Educação por não oferecer “[…] esa promesa de progreso que significó para jóvenes de clases medias y populares de las ciudades en años anteriores. El sitio de la escuela como lugar de progreso ha sido ocupado por la migración” (De Keijzer e Rodríguez, 2003: 39). Muitos jovens preferem tentar sair do país como um meio de escapar da falta de oportunidades laborais e educativas, e para evitar serem vitimas de violência letal que impera nas zonas urbano-marginais. O perfil do jovem que tem pensado em emigrar pelas condições de vulnerabilidade, violência e falta de oportunidades de emprego é o seguinte:

[…] básicamente hombres, de sectores urbanos del país, con un nivel educativo de básico o bachillerato, que viven en el área metropolitana y oriental del país, con un equipamiento medio del hogar, que pertenecen a estratos sociales obreros y medios (65.1%), con una proporción más alta entre ellos de simpatizar por el FMLN[1], y con una proporción más alta de insatisfacción con la propia vida (IUDOP, 2008: 28).

 

“El contexto de las comunidades marginales refleja una débil presencia del Estado en diferentes y variados ámbitos: en la seguridad, en la provisión de servicios y en la disponibilidad de educación y el acceso al trabajo” (Savenije e Beltran, 2012: 27). A cultura juvenil da marginalidade é um mecanismo de resposta ante a falta de políticas públicas que provejam estímulos positivos, e ao mesmo tempo como uma cápsula que envolve aos jovens e não permite sua inserção adequada na sociedade.

Como parte integrante da cultura juvenil da marginalidade encontra-se a reprodução das iniquidades do gênero. As juventudes vistas a partir do gênero como um eixo sócio-cultural nos proporciona um nível de análise “que permite indagar básicamente sobre una dimensión constitutiva de las relaciones sociales, dimensión que en la que se articulan desigualdades y jerarquías en torno a las características biológicas de los cuerpos sexuados humanos” (González, 2002: 23), onde entre mesclam-se fatores como a saúde, a educação, a economia, a geografia entre outros, e que estruturam, questionam e sustentam o ser jovem contemporâneo dos assentamentos urbanos precários.

A cultura salvadorenha, de maneira similar a demais culturas de matriz latino-americana, segue um padrão estrutural do modelo hegemônico, o qual “[…] legitima tanto las desigualdades sociales como los procesos subjetivos e intersubjetivos de subordinación entre los hombres y las mujeres” (Rodríguez, 2007: 348). O principal referente de estruturação do gênero hegemônico para homens e mulheres é o Machismo “[…] como expresión de la magnificación de lo masculino en detrimento de la constitución, las capacidades, la personalidad, la autonomía y las esencias femeninas” (Cáceres et al., 2002: 61). Em relação ao gênero, a Encuesta Nacional de Juventud (Iudop, 2008) o estudo evidencia as diversas dimensões das problemáticas que homens e mulheres jovens enfrentam, as quais se diferenciam notavelmente entre si. Os dados que ressaltam a situação da desvantagem em que sobrevivem muitas mulheres jovens, e provavelmente sua respectiva descendência, e permitem entender as vias pelas quais se perpetuam os ciclos intergeneracionais de pobreza e exclusão.

O modelo hegemônico masculino representado pelo machismo é o reflexo da

[…] orden patriarcal [que] sigue siendo el modelo prevalerte de organización social, se expresan normas, creencias y valores diferentes para el sexo femenino y para el sexo masculino; para el poderoso y para el pobre o excluido, así como para las personas adultas en relación con la niñez y la adolescencia. (Grillo, 2004: 71).

Os homens que moram nos assentamentos urbanos precários, continuando a análise que Martín-Baró (2012) realizou na década do conflito armado interno sobre o comportamento machista em que homens oprimidos ao serem submissos a outros homens no contexto social, “compensan cotidianamente su sometimiento social sintiéndose los señores del hogar” (Martín-Baró, 2012: 76), que de maneira implícita, promove algum tipo de violência contra as mulheres, crianças, adolescentes e idosos. “Aunque la guerra civil terminó, aún continuamos con los mismos patrones de intolerancia, y con la violencia como respuesta a los conflictos, debido al modelo machista que subyace en nuestra cultura” (Instituto Nacional de Juventud, 2011b: 59).

Durante a adolescência e a juventude os homens experimentam um processo crucial na construção da sua identidade de gênero, em que estão presentes fatores fisiológicos e sociais, outorgando à masculinidade, características particulares distintas às que se poderiam observar na infância ou na maturidade. A cultura da violência, desde a análise de gênero, nos mostra que uma das principais características do machismo é o uso da violência excessiva para mostrar poder na sociedade. Homens jovens devem fazer uso maximizado da violência para mostrar que são homens de verdade a outros homens e à sociedade em geral.

Como parte do modelo hegemônico machista, devemos colocar uma especial atenção na violência exercida contra jovens que apresentam uma orientação sexual diferente à heterossexual, os atos de violência direta como golpes, ameaças, violações, feridas, insultos. Também se apresenta a violência simbólica, a qual lhes impossibilita expressar sua orientação sexual de forma natural em seus contextos de vida: a família, a escola, a comunidade e a sociedade. Aparecem ainda como problemas principais para este segmento vulnerável da juventude, a falta do reconhecimento das identidades de gênero, estigma, discriminação e não reconhecimento do Estado de Direito (Instituto Nacional de la Juventud, 2011a: 43), provocando um processo de marginalização e vulnerabilidade social que lhes expõem à morte, ao suicídio e a infecções do HIV (PASMO-El Salvador, 2010).

REFERÊNCIAS

 

ASOCIACIÓN PANAMERICANA DE MERCADEO SOCIAL (PASMO-El Salvador). La guía de abordaje de hombres que tiene sexo con otros hombres y personas transgéneros. San Salvador: PASMO/PSI, 2010.

CÁCERES, C. et al. Ser hombre en el Perú de hoy: una mirada a la salud sexual desde la infidelidad, la violencia y la homofobia. Lima: REDESS, 2002.

DE KEIJZER, B.; RODRÍGUEZ, G. Jóvenes rurales. Género y generación en un mundo cambiante. In: OLAVARRÍA, J. Varones adolescentes: género, identidades y sexualidades en América Latina. Santiago de Chile: Salesianos, 2003. p. 33-52.

GRILLO, M. Pobreza, violencia, niñez y adolescencia trabajadora doméstica: algunas consideraciones desde Costa Rica. In: Rizzini, I.et al. (Org.). Niños y adolescentes creciendo en contextos de pobreza, marginalidad y violencia en América Latina. Rio de Janeiro: CIESPI, 2004.  p. 67-78.

INSTITUTO NACIONAL DE LA JUVENTUD. Política nacional de juventud: 2011-2024. San Salvador: INJUVE, 2011a.

______. Juventud y violencia: los hombres y las mujeres jóvenes como agentes, como víctimas y como actores de superación de la violencia en El Salvador. San Salvador: INJUVE, 2011b.

INSTITUTO UNIVERSITARIO DE OPINIÓN PÚBLICA (Iudop). Encuesta Nacional de Juventud: Proyecto Sembrando Futuro. Niñez y juventud sin violencia, desde la participación ciudadana y los derechos humanos, San Salvador: UCA, 2008.

martín-Baró, I. Acción e ideología: Psicología social desde Centroamérica. San Salvador: UCA Editores, 2012.

ORGANIZACIÓN DE LAS NACIONES UNIDAS. Guía para la prevención con jóvenes: hacia políticas de cohesión social y seguridad ciudadana. Santiago de Chile: ONU, 2011.

RODRÍGUEZ, Y. La interpelación del sujeto: género y erotismo en hombres jóvenes de la ciudad de México. In: AMUCHÁSTEGUI, A.; SZASZ, I. (Coord.). Sucede que me canso de ser hombre: relatos y reflexiones sobre hombres y masculinidades en México. Ciudad de México, DF: El Colegio de México, 2007.  p. 343-394.

SAVENIJE, W.; BELTRÁN, M. A. Conceptualización del modelo de prevención social de la violencia con participación juvenil. San Salvador: Injuve, 2012.

[1] Frente Farabundo Martí para la Liberación Nacional (FMLN), partido político originado do movimento beligerante da década de 1980.

Amaral Palevi Gómez Arevalo

Docente de Ensino Superior, Doutor em Estudos Internacionais em Paz, Conflitos e Desenvolvimento (Universitat Jaume I), Graduado em Ciências da Educação (Universidad de El Salvador). Gestor de projetos de desenvolvimento comunitário com jovens, homens e atenção à população LGBT. Promotor de cultura de paz, a partir de meios audiovisuais.

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