EDITORIAL: Costa Rica na Copa 2014: nos mapas do futebol e do Sul Global

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*por Aleksander Aguilar

A Copa do Mundo 2014 está em pleno curso, aqui no Brasil, onde este blog é editado, e embora o futebol esteja longe do foco de abordagem desta revista virtual, esse esporte, principalmente durante os 30 dias em que o campeonato dura, nos permite considerar um importante paralelo. Neste acontecimento global, o público latino-americano em geral deseja que o troféu seja levantado por um país da região, onde a tradição reside nos sul-americanos Brasil, Argentina e Uruguay. Da América Central, bem menos presente nesta cartografia do poder futebolístico, nesta edição do evento temos dois representantes, Honduras e Costa Rica. Mas como se vê a partir meganegócios que o futebol contemporâneo movimenta, é possível traçar a partir disso analogias entre globalização hiper-capitalista e nacionalismo. Segundo o jornalista Pepe Escobar, “nada há de pós-nação ou pós-nacional, na Copa do Mundo”. No futebol, a maior diferença na comparação com a geopolítica, é que não há só uma potência, mas várias, de Espanha ao Brasil, de Alemanha a Itália, de Argentina a França. Na geopolítica em sentido estrito, são os BRICS que conduzem a transição na direção de um mundo multipolar – que já existe no futebol. A articulação Sul-Sul é importante para questionar a hegemonia do norte industrializado. Mais integração Sul-Sul é uma via para um sistema internacional mais igualitário. Rinus Michels, técnico do time que ficou conhecido como “Carrossel Holandês”, seleção nacional que, semelhantemente ao que aparentemente se vê na Copa deste ano também, deslumbrou o mundo em 1974, disse certa vez que futebol é guerra. A Copa do Mundo é guerra por outros meios; um duelo oficial, permitido, ritualizado, entre nacionalismos. O futebol centro-americano não tem essa força que outras potências, políticas e esportivas, possuem para vencer esta guerra. A Costa Rica, junto com todo o istmo, está na periferia do sistema. Mas com esse começo arrebatador, o país surpreende e faz visível a América Central, costumeiramente tão ignorada, no mapa-mundi do futebol, que também é uma janela de visibilidade e presença nas cartografias geopolíticas desse mundo cada vez mais multipolar. Los hermanos “ticos” deram literalmente um show de bola na sua primeira partida nesta Copa, ganhando, por 3 a 1, de uma equipe de muita tradição no futebol mundial, que ostenta um título de campeão, o Uruguay. A imprensa uruguaya antes do jogo falava, ironicamente, na partida contra a “Costa Pobre”. Mas ao final reconheceu-se que o os ticos fizeram uma grande partida que foi a revanche do mundial de 2010, quando o Uruguay os venceu na repescagem. Tudo isso, na verdade, vai muito além do nacionalismo. E seja qual for o resultado dessa guerra que se trava em torno do futebol, o Sul Global tem muitas lições a ensinar, mas também aprender. E também independentemente de quão longe a Costa Rica vá nesta Copa, com essa vitória los ticos já encheram de orgulho toda a América Central.

* Aleksander Aguilar é um dos coordenadores deste projeto O Istmo.

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