Por Amaral Palevi Gómez Arévalo*
Revisão: Mariana Yante
A violência adota diferentes formas e pode ser definida por distintas maneiras, de acordo ao contexto histórico, social e textual que se defina: o uso do poder de um grupo sobre outro grupo humano, a dominação masculina sobre a mulher, a dominação de um grupo étnico sobre outro, de uma camada social sobre outra, a heterocultura que deprecia as manifestações diversas da sexualidade humana, a distribuição não equitativa da riqueza nas nações e entre as nações são algumas das manifestações das violências estruturais e culturais que desembocam em violências diretas (GALTUNG, 1998). Estas se caracterizam pelo uso da agressão física com a intenção clara de causar danos, dor e inclusive a morte de uma pessoa, de um coletivo humano e até da natureza que dá sustento e proteção aos seres humanos.
Em El Salvador:
“[…] el carácter epidémico de la violencia es el síntoma más fehaciente de los serios problemas de cohesión social que el país enfrenta. Estos tienen su origen estructural en un sistema socioeconómico históricamente incapaz de asegurar el bienestar colectivo y generar equidad, y que tiende a engendrar “trampas de pobreza” que dificultan el aprovechamiento de las oportunidades de progreso social por parte de amplios sectores de la población.”[1] (PNUD, 2008: 252).
No caso salvadorenho, os jovens dos Assentamentos Urbanos Precários da Área Metropolitana de San Salvador (AMSS), aos quais tenho me referido nas colaborações dos meses anteriores, são os mais propensos a ser parte da violência, e, nesse caso particular, a uma Violência Organizada Armada -COAV, segundo suas siglas em Inglês (DOWDNEY, 2005: 9).
Os jovens que acedem à COAV estão condicionados, em parte, pela exclusão do sistema de consumo e pela pouca ou nula presença do Estado em seus lugares de moradia (ORGANIZACIÓN IBEROAMERICANA DE LA JUVENTUD, 2008: 19). O abandono das autoridades e a marginalidade na qual se encontram os jovens abre a porta para que outros assumam o papel de autoridade, sejam as quadrilhas que se denominam “maras”, os vendedores de droga, ou grupos de delinquentes comuns. Esses atores se conformam como estruturas de poder paralelas, que dão aos moradores das comunidades –especialmente aos jovens – exemplos de como se pode conseguir de forma fácil e rápida o dinheiro, o poder, o prestígio etc., tudo o que a sociedade não lhes concede (SAVENIJE & BELTRÁN, 2012: 28).
Assim, o exercício da violência, a qual se concretiza em homicídios, é a forma que muitos jovens elegem como seu meio de vida. A violência lhes dá um falso sentido de existência e a equivocada percepção de poder sobre a vida de outros. No entanto, no sistema de exclusão do qual procedem, esta farsa é mais do que suficiente para dar sentido à existência.
As ações dos jovens na COAV têm suas repercussões sociais, econômicas e de desenvolvimento nos países que experimentam este fenómeno social. “En algunos países, incluso los logros más importantes en la reducción de mortalidad en la primera infancia no han tenido un impacto en la esperanza de vida media, porque estas mejoras son anuladas por las tasas crecientes del homicidio entre adolescentes y jóvenes”[2] (PINHEIRO, 2005: 6). No caso de El Salvador, o VI Censo de Población y V de Vivienda, entre suas considerações a respeito da violência sob a perspectiva de género, dispõe que:
[…] en los hombres a partir de los 15 años comienza a cobrar mayor importancia las muertes por distintas razones que en las mujeres; los homicidios, los suicidios, los accidentes automotores, accidentes laborales, etc., que sumadas a enfermedades que tienen diferente significación, según el sexo, provocan una mortalidad mayor de la población masculina, con respecto a la femenina[3] (MINISTERIO DE ECONÓMIA DE EL SALVADOR, 2007: 67).
As condições estruturais da ordem social de marginalização em El Salvador (MARTÍN- BARÓ, 2008: 69) promovem a COAV entre os jovens. No entanto, deve-se esclarecer que nem todos os jovens que moram nos Assentamentos Urbanos Precários estão destinados a integrar-se à COAV. A decisão de fazer parte da COAV obedece à história de vida individual, às características pessoais, à educação, à percepção da realidade, bem como à satisfação de necessidades que interagem com a grande quantidade de oportunidades negativas que lhes proporciona seu entorno de vida (SAVENIJE & BELTRÁN, 2012: 35-50).
As condições específicas para integrar-se à COAV no contexto de El Salvador apresentam as seguintes caraterísticas (PNUD, 2009: 108): ser, em sua maioria, homem, haver fugido do lar, ter abandonado a escola, morar em um lugar onde operam as “maras” e viver em um contexto de pobreza familiar – ainda que esta última causa não seja vinculante em stricto sensu. Esses fatores podem ser resumidos em três razões pelas quais os jovens se integram à COAV: as afetivas, as de segurança e as utilitárias (PNUD, 2009: 107).
Nesse sentido, por meio da análise que continuaremos realizando nos próximos meses sobre os fatores de proteção individual que são transformados em oportunidades negativas de vida – as quais fazem com que uma pessoa se integre aos grupos delitivos, organizados e armados –, retomaremos cada uma das questões anteriores, acrescidas de uma reflexão em torno da construção da identidade.
**Amaral Palevi Gómez Arevalo é Docente de Ensino Superior, Doutor em Estudos Internacionais em Paz, Conflitos e Desenvolvimento (Universitat Jaume I), Graduado em Ciências da Educação (Universidad de El Salvador). Gestor de projetos de desenvolvimento comunitário com jovens, homens e atenção à população LGBT. Promotor de cultura de paz, a partir de meios audiovisuais.
REFERÊNCIAS
DOWDNEY, L. (Org.). Ni guerra ni paz: comparaciones internacionales de niños y jóvenes en violencia armada organizada. Rio de Janeiro: COAV, 2005.
GALTUNG, J. Tras la violencia, 3R: reconstrucción, reconciliación, resolución. Afrontando los efectos visibles e invisibles de la guerra y la violencia. Gernika: Gernika Gogoratuz, 1998.
martín-Baró, I. Sistema, grupo y poder. San Salvador: UCA Editores, 2008.
Ministerio de Economía de El Salvador. VI Censo de Población y V de Vivienda 2007. San Salvador: MINEC, 2008.
ORGANIZACIÓN IBEROAMERICANA DE LA JUVENTUD. 2008: Nuevos desafíos con las y los Jóvenes de Iberoamerica. Madrid: OIJ, 2008.
PINHEIRO, P. Prólogo. In: DOWDNEY, L. (Org.). Ni guerra ni paz: comparaciones internacionales de niños y jóvenes en violencia armada organizada. Rio de Janeiro: COAV, 2005. p. 5-6.
PROGRAMA DE LAS NACIONES UNIDAS PARA EL DESARROLLO. Informe sobre Desarrollo Humano El Salvador 2007-2008: el empleo en uno de los pueblos más trabajadores del mundo. San Salvador: PNUD, 2008.
______. Informe sobre Desarrollo Humano para América Central 2009-2010: Abrir espacios a la seguridad ciudadana y el desarrollo humano. Bogotá: D’vinni, 2009.
SAVENIJE, W. & BELTRÁN, M. A. Conceptualización del modelo de prevención social de la violencia con participación juvenil. San Salvador: Injuve, 2012.
[1] Tradução livre: “[…] o caráter epidêmico da violência é o sintoma mais irrefutável dos sérios problemas de coesão social que o país enfrenta. Estes têm sua origem estrutural em um sistema socioeconômico historicamente incapaz de assegurar o bem-estar coletivo e gerar equidade, e que tende a engendrar ‘bolsões de pobreza’ que dificultam o aproveitamento das oportunidades de progresso social por parte de amplos setores da população.”
[2] Tradução livre: “Em alguns países, mesmo as realizações mais importantes quanto à redução da mortalidade na primeira infância não vêm tendo um impacto sobre a expectativa de vida, porque essas melhoras são anuladas pelas crescentes taxas de homicídio entre adolescentes e jovens”.
[3] Tradução livre: “[…] entre os homens a partir dos quinze anos, as mortes por distintas razões começam a adquirir maior relevância do que entre as mulheres; os homicídios, os suicídios, os acidentes automobilísticos, os acidentes de trabalho etc., que, somados às enfermidades que possuem diferentes significados a depender do sexo, provocam uma mortalidade maior da população masculina do que da feminina”.