Por Amaral Palevi Gómez Arévalo*
Revisão por Mariana Yante
Para finalizar nossa análise sobre a juventude e a construção da violência em El Salvador, vou falar sobre algumas ideias para melhorar a forma de abarcar a juventude e suas dificuldades.
A maior parte das políticas públicas impulsionadas pelo Estado salvadorenho pressupõe que os jovens são um problema, um obstáculo, agressivos ou violentos, o que impossibilita estabelecer um diálogo construtivo e propositivo com eles e elas. É preciso lembrar que, a partir da construção ontológica de muitos jovens na atualidade de querer ter e não querer ser, devemos atender ao desenvolvimento de seu capital afetivo como fator de proteção entre a delinquência e a violência. O capital afetivo é mais do que o capital social ou cognitivo; é um ponto essencial em um programa de prevenção da violência, por considerar que o ingresso em uma mara gira em torno da satisfação de necessidades afetivas, relacionais e de pertencimento; e, em um segundo ponto, por atender aos fatores econômicos.
Em tal sentido, devemos partir da premissa de que os jovens devem ser vistos como aliados. É fato que alguns jovens são violentos com outros e com eles mesmos, mas considero que é fundamental começar a perceber o que os jovens também fazem de positivo e de humano. Por tal motivo, creio firmemente no potencial dos jovens vulneráveis para serem diferentes, apesar do contexto, do estigma e da discriminação de que possam padecer.
O objetivo de constituir juventudes como sujeitos de direitos deve iniciar com a discussão e com a análise de políticas públicas positivas, comensuráveis e viáveis para serem as bases dos direitos dos jovens. Devemos reconhecer a importância dos sentimentos, pensamentos e ações das juventudes a partir de sua diversidade.
Nesse processo de reconhecimento das juventudes como titulares de direitos plenos, o Estado, representado pela institucionalidade do governo central ou municipal, é o primeiro que deve criar políticas públicas que se encaminhem para um pleno exercício dos direitos por parte dos jovens. O atraso da criação de políticas públicas para os jovens, a promulgação da Lei Geral de Juventude, passando pela sua regulamentação, constituição do conselho nacional de juventude, andamento do instituto nacional da juventude e com a posta em marcha de alguns programas e projetos no transcurso dos últimos três anos representam aliciantes.
Um caminho que se pode retomar para prevenir a violência é ver as características individuais e familiares dos jovens de assentamentos urbanos precários, em situação de alto risco, que tiveram êxito na escola ou no trabalho e que não se envolveram com as maras ou outros grupos violentos, o que podemos denominar de Resiliência. Esta significa que alguns jovens, ainda que em circunstâncias difíceis, encontram alternativas para superar de forma positiva os riscos que os rodeiam. Estas alternativas têm que ser potencializadas.
A resiliência leva em consideração os fatores de proteção, os quais “son definidos como aquellos mecanismos que hacen a las personas menos vulnerables a la influencia de los factores de riesgo, produciendo competencias y habilidades que permitan enfrentar las acciones negativas asociados a otros factores”[1] (Rivera, 2010, p. 40). Entre estes fatores ou mecanismos de proteção, podemos mencionar os seguintes:
- Autoestima positiva
- Confiança, otimismo e senso de esperança
- Autonomia e senso de independência
- Sociabilidade
- Capacidade para experimentar alguma gama de emoções
- Habilidades positivas de imitação
- Motivação para a realização e senso de competências
- Ambiente familiar aconchegante
- Pais estimuladores e apoiadores
Finalmente, a resiliência tem dois aspectos: 1. a resistência frente à destruição, ou seja, a capacidade para proteger a própria integridade sob pressão social, e para mais além da resistência; 2. a capacidade de estabelecer um comportamento vital positivo, em que pesem as circunstâncias difíceis. O conceito de resiliência inclui a capacidade de uma pessoa ou de um sistema social enfrentar adequadamente as dificuldades de uma forma socialmente aceitável. A resiliência promove mudanças nas estruturas da violência e proporciona a construção de elementos protetores dos jovens. Essa concepção deve ter em conta os fatores de Gênero, Geração e Geografia (3G) para obter êxito.
Gênero
A utilização do gênero no trabalho com jovens a partir da resiliência deve reconhecer que a violência se manifesta de diferentes formas segundo o gênero da pessoa. Nos espaços públicos, os homens jovens são autores e vítimas da violência. Nos espaços privados, como a casa, o mais frequente é que os homens sejam os autores da violência e as mulheres, vítimas desta.
Em tal sentido, o trabalho sob o enfoque da resiliência deve ser feito diferenciando os homens das mulheres, atendendo às suas próprias especificidades, interesses e necessidades. O Gênero é um diferenciador necessário para o desenvolvimento de qualquer ação, e muito mais para a execução de políticas públicas inclusivas e para a execução de projetos sociais.
Geração
Considerando a resiliência no trabalho com jovens e a violência, reconhece-se que não se podem abordar de igual forma os diferentes grupos sociais que integram a juventude. O conceito de geração é analisado tanto a partir da vertente da idade, como da cultura. Segundo a idade, cada grupo de jovens constitui um tipo de cultura específica, razão pela qual deve ser abordado de acordo com essas características. Por exemplo, os homens jovens são mais propensos a exercer a violência que qualquer outro grupo social. Sob esta informação de geração, devem-se planejar ações concretas voltadas para as necessidades e interesses dos diferentes grupos etários e culturais que os jovens compõem.
Geografia
Até o ano 2006, se conhecia por dados oficiais a existência de 10.500 pessoas integrantes de maras (Programa de las Naciones Unidas para el Desarrollo, 2009, p. 108). A atuação das maras cria no restante da comunidade, unidade habitacional, bairro ou, neste caso, na sociedade uma relação ambivalente “a medio camino entre el temor y la solidaridad”[2] (Programa de las Naciones Unidas para el Desarrollo, 2009, p. 112). Assim, além de implementarem-se programas que beneficiem diretamente os integrantes das maras, deve-se fazer um trabalho com toda a rede social que, de alguma forma, está envolvida no processo de chegada à e integração na mara, bem como com a saída desta e a reinserção na sociedade.
Reconhecer o contexto concreto da vida dos jovens permite que qualquer programa de resiliência obtenha um maior êxito. Valorar o contexto de vida e as necessidades concretas apresentadas pelos jovens possibilita diferenciar os jovens de assentamentos urbanos precários daqueles que vivem em uma zona rural; ainda que ambos os contextos geográficos sejam marginais, apresentam diferenças que devem ser consideradas na implementação de ações de resiliência. Os fatores de proteção devem responder ao contexto geográfico – por tal razão devemos trabalhar em particular consonância com cada um dos contextos sociais onde os jovens se inserem.
* Amaral Palevi Gómez Arevalo é docente de Ensino Superior, Doutor em Estudos Internacionais em Paz, Conflitos e Desenvolvimento (Universitat Jaume I), Graduado em Ciências da Educação (Universidad de El Salvador). Gestor de projetos de desenvolvimento comunitário com jovens, homens e atenção à população LGBT. Promotor de cultura de paz, a partir de meios audiovisuais.
***REFERÊNCIAS
PROGRAMA DE LAS NACIONES UNIDAS PARA EL DESARROLLO. Informe sobre Desarrollo Humano para América Central 2009-2010: Abrir espacios a la seguridad ciudadana y el desarrollo humano. Bogotá: D’vinni, 2009.
RIVERA, L. P. La prevención primaria de la violencia juvenil en Centroamérica: los países del triángulo norte. Managua: FAD, 2010.
***NOTAS
[1] Livre tradução: “são definidos como aqueles mecanismos que tornam as pessoas menos vulneráveis à influência dos fatores de risco, produzindo competências e habilidades que permitam enfrentar as ações negativas associadas a outros fatores”.
[2] Tradução livre: “no meio caminho entre o temor e a solidariedade”.