Por Amaral Palevi Gómez Arevalo*
Revisão por Mariana Yante
Em continuidade à nossa tarefa de compreender os fatos que contribuem para que jovens se integrem aos grupos delinquenciais denominados maras, nesta colaboração vamos abordar a temática da identidade e suas conexões com a construção da violência nos jovens em El Salvador.
No que tange ao conceito Identidade, o entenderemos por meio de quatro características fundamentais: (1) referir-se a um mundo; (2) afirmar-se na relação interpessoal; (3) ser relativamente estável, e (4) ser produto tanto da sociedade, como da ação do próprio indivíduo (MARTÍN-BARÓ, 2012, p. 121). Esses elementos servirão de guia para a análise da construção da violência em jovens.
Sob a análise dos jovens que acedem aos processos de violência a partir uma aproximação cotidiana desta, é possível constatar que a identidade está evidenciada nesse contexto concreto de vida, no qual a violência é uma constante: desde “las prácticas de crianza, especialmente el modelaje de la violencia intrafamiliar”[1] (INSTITUTO NACIONAL DE LA JUVENTUD, 2011, p. 60) à morte homicida, passando por brigas, pelas brigas de rua e, inclusive, pela violência sexual. O contexto, ao ser violento, promove a adoção da violência como ideologia de vida socialmente aceita, na qual os homens jovens “[…] de entre 15 y 19 años, en donde la mayoría ha estudiado hasta plan básico, solteros o separados, en donde la mitad pertenecen a sectores urbanos, y un poco más de la mitad no estudia ni trabaja”[2] (INSTITUTO UNIVERSITARIO DE OPINIÓN PÚBLICA, 2008, p. 27), converteram-se em executores e promotores da violência.
As relações interpessoais que promovem a violência entre jovens dos assentamentos precários urbanos em um primeiro momento evidenciam-se pela procura do sentido de pertencimento (INSTITUTO NACIONAL DE LA JUVENTUD, 2011, p. 128) aos grupos de pares que existem em seus contextos de vida. Nesse sentido, “[…] las pandillas y las pequeñas asociaciones de amigos se vuelven un espacio único para la adquisición de un sentido de pertenencia y les satisfaga sus necesidades de apoyo, de ser escuchados y de tener compañía”[3] (INSTITUTO NACIONAL DE LA JUVENTUD, 2011, p. 92). Para muitos jovens, “los amigos influyen en los y las jóvenes; la presión social, sobre todo para los jóvenes del sexo masculino, para el ejercicio de la violencia es fuerte”[4] (INSTITUTO NACIONAL DE LA JUVENTUD, 2011, p. 92). É assim que a violência ocupa-se como uma possibilidade de construção de identidade:
El ejercicio de la violencia permite a los jóvenes construir una identidad. Las violencias les otorgan una posición social, les darían un carácter, les permitirían sentirse reconocidos en un tiempo y en un lugar. Se puede sintetizar en una frase: “si dicen que somos violentos, ¡somos violentos!, ¿y qué?”. Es una forma de ser reconocidos por quienes son percibidos como dominantes.[5] (ORGANIZACIÓN DE LAS NACIONES UNIDAS, 2011, p. 26-27).
Segundo as reflexões sobre Gênero, os discursos da masculinidade hegemônica indicam a utilização da violência como uma forma de autodeterminar a identidade masculina. Para o caso que nos interessa, nos homens jovens é uma prerrogativa para adquirir a masculinidade hegemônica que se qualifica ademais como heteronormativa, a qual tem profundas raízes em nossa cultura. Por conseguinte os homens, sobretudo os jovens, são mais propensos a exercerem a violência contra outros, para provar sua masculinidade. O exercício da violência entre homens jovens é uma forma de construção de identidade de gênero (ORGANIZACIÓN DE LAS NACIONES UNIDAS, 2011, p. 26-27).
Continuando a análise de Martín-Baró (2012, p. 359), “[…] los salvadoreños han experimentado una situación de continua muerte en su propia existencia […]” processo social que “[…] hunde sus raíces en una historia de opresión secular, verdadera matriz de la violencia que hoy impera en el país”[6] (Ibid., p. 359). Esse panorama tem gerado uma construção ideológica que privilegia o uso da violência como meio de resolver os problemas na sociedade salvadorenha (CARRANZA, 2005, p. 188). Se a identidade violenta nos jovens está correlacionada à sua aproximação cotidiana desta, ao observar a história dos últimos cem anos em El Salvador vemos a violência como uma constante, a qual gera nas estruturas individuais uma estabilidade para seu uso e reprodução de forma natural e aceita conscientemente.
Depois de verificar que o contexto imediato possui tantas estruturas associadas ao uso da violência, e que as relações interpessoais promovem e exigem sua utilização, não é de surpreender-nos que sejam adotadas decisões pessoais apropriadas ao emprego da violência homicida, como a vingança (INSTITUTO NACIONAL DE LA JUVENTUD, 2011, p. 128), a qual se assume como justificativa pessoal para que homens jovens lancem mão de práticas violentas. Esse aspecto garante a continuidade ao ciclo histórico da violência em El Salvador, o qual, em vez de minimizar-se, está se aprofundando.
* Amaral Palevi Gómez Arevalo é docente de Ensino Superior, Doutor em Estudos Internacionais em Paz, Conflitos e Desenvolvimento (Universitat Jaume I), Graduado em Ciências da Educação (Universidad de El Salvador). Gestor de projetos de desenvolvimento comunitário com jovens, homens e atenção à população LGBT. Promotor de cultura de paz, a partir de meios audiovisuais.
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REFERÊNCIAS
CARRANZA, M. Detención o muerte: hacia dónde van los niños “pandilleros” de El Salvador. In: DOWDNEY, L. (Org.). Ni guerra ni paz: comparaciones internacionales de niños y jóvenes en violencia armada organizada. Rio de Janeiro: COAV, 2005. p. 187-205.
INSTITUTO NACIONAL DE LA JUVENTUD. Política nacional de juventud: 2011-2024. San Salvador: INJUVE, 2011.
INSTITUTO UNIVERSITARIO DE OPINIÓN PÚBLICA (Iudop). Encuesta Nacional de Juventud: Proyecto Sembrando Futuro. Niñez y juventud sin violencia, desde la participación ciudadana y los derechos humanos, San Salvador: UCA, 2008.
Martín-Baró, I. Acción e ideología: Psicología social desde Centroamérica. San Salvador: UCA Editores, 2012.
ORGANIZACIÓN DE LAS NACIONES UNIDAS. Guía para la prevención con jóvenes: hacia políticas de cohesión social y seguridad ciudadana. Santiago de Chile: ONU, 2011.
NOTAS
[1] Tradução livre: “(…) as práticas infantis, especialmente a modelagem da violência intrafamiliar”.
[2][2] Tradução livre: “(…) entre 15 e 19 anos, entre os quais a maioria estudou até o ensino básico, solteiros ou separados, entre os quais a metade pertence a setores urbanos, e um pouco mais da metade não estuda, nem trabalha”.
[3] Tradução livre: “(…) as gangues e as pequenas associações de amigos se tornam um espaço único para a aquisição de um sentido de pertencimento e satisfaz suas necessidades de apoio, de serem escutados e de terem companhia”.
[4] Tradução livre: “os amigos influenciam os e as jovens; a pressão social, sobretudo para os jovens do sexo masculino, no sentido do exercício da violência, é forte”.
[5] Tradução livre: “O exercício da violência permite aos jovens construir uma identidade. As violências outorga-lhes uma posição social, dar-lhes-ia um caráter, permitiria que eles se sentissem reconhecidos em um tempo e em um lugar. Pode-se sintetizar em uma frase: ‘se dizem que somos violentos, somos violentos!, e daí?’. É uma forma de serem reconhecidos por aqueles que são compreendidos como dominantes”.
[6] Tradução livre: “(…) os salvadorenhos têm experimentado uma situação de contínua morte de sua própria existência (…)” processo social que “funde suas raízes em uma história de opressão secular, verdadeira matriz da violência que hoje impera no país”.